... finda a bonança, e chegada a tempestade que cercava, o que resta é abandonar as armas
e retomar a luta ...

sábado, 15 de setembro de 2012

:::que seja leve:::

::: déjà vu :::

a apatia daqueles dias conseguia esmaecer as cores até do céu,
imaculadamente azul.
onde nem cirros nem nimbos se atreviam a estar.
olhava a imensidão.
ao invés de magnificamente opressora,
e mesmo tendo a perfeita consciência da beleza ou apesar dela,
tudo era ínfimo, pequeno, desbotado.
gasto.
como se, às vezes, fizesse parte de um tempo...
uma vida recorrente,
na qual estava estranhamente deslocada.
descolada.
sem aderência possível a lhe ater.
sem ponto possível a permanecer.
sofria.
e sofria mais nessa sensação de sofrimento antigo.
como se o sentisse existência após existência,
e tivesse a noção de sua pena por toda a eternidade.
foi interrompida na melancolia,
pelo sorriso encabulado do filho,
lhe pedindo permissão de se intrometer em pensamentos de importância tal.
riu de volta.
riso sincero.
resignado no amor que emanava daquele um metro de altura...

pensou nisso:

 tem instantes que o amor vem em ondas.
intensas notas dissonantes.
estardalhaço.
tem dias que é tudo abandono.
indiferença, letargia, suspensão.
estando, sem estar.
como um céu de estrelas mortas.
com um brilho que acompanha
a prole da prole da prole
da última das gerações - minhas.
e que, já não existindo, soa infinito
ante essa humana insignificância.
encarcerada no tempo,
condenada ao espaço.
limitada na consciência que pontua.
enlouquecendo na lucidez que confere.

meu medo me espreita de longe.
marca de perto.
não aborda, é sádico.
fala um sussurro oco.
retumba dentro de mim.
ecoa no vento que me gela a espinha.
todo dia e novamente.

paula quinaud

in cocteau twins - lullabies

...
half gifts

it's an old game, my love
when you can't have me you want me
because you know
that you're not risking anything
...
 
 


:::que seja leve :::


domingo, 9 de setembro de 2012

::: ana da lua amarela :::

...
vem do mundo da lua,
os olhos que não se esquece.
e junto com eles, quem sabe,
está um caminho sem volta.
pois leva onde habitam as fadas.
e onde a beleza anda solta.
aponta o final do arco-íris.
e revela  que o pote de ouro,
é um simples sorriso de anna.
...
paula  quinaud



Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho*
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...

Ciranda da Bailarina
Chico Buarque