... finda a bonança, e chegada a tempestade que cercava, o que resta é abandonar as armas
e retomar a luta ...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

:::que fazer, canto:::


a pergunta, é se existe destino…
pecado principal?
aversão original?

porque, de repente, num susto,
o afeto é assim machucado.
baleado, ao acaso enredado.
sai rendado que nem a peneira,
da água d’então carregada.
de mágoa por fim transbordada.
e inundado, seca.
segue em branco.
maculado no dia após dia após cria.
pós folia.
pós valia.
e o que era ilusão, vira engano.
tão inverso,  assim sendo o mesmo.
escancara e é enfim revelado,
o segredo do conto do enfado:
a carne do amor é fraca.
mas o couro é duro,
enruga e aguenta a peleja.
e o escambo.
e a palidez...
até a desfeita!
só não dura pra sempre.

pena.

paula quinaud
 



além do amor

Se tu queres que eu não chore mais
Diga ao tempo que não passe mais
Chora o tempo o mesmo pranto meu
Ele e eu, tanto
Que só para não te entristecer
Que fazer, canto
Canto para que te lembres
Quando eu me for
Deixa-me chorar assim
Porque eu te amo
Dói a vida
Tanto em mim
Porque eu te amo
Beija até o fim
As minhas lágrimas de dor
Porque eu te amo, além do amor!

vinícius de morais




terça-feira, 28 de agosto de 2012

::: sobre os ais :::

::: e.ponto :::

e me são reticências duplas.
três  dois pontos.
dois, seis, par.
antes, aqui, adiante...
e um entre que fica no ar.
se é ponto final, se não é?
são enfim os meus pingos nos ais.

paula quinaud




Soneto da Perdida Esperança

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.
Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.
Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa
com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

Carlos Drummond de Andrade




MIRROR


I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike.
I am not cruel, just truthful -
The eye of a little god, four cournered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.


Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.
Sylvia Plath

Espelho

Sou de prata e exacto. Não faço pré-julgamentos.
O que vejo engulo de imediato
Tal como é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, simplesmente verídico —
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Reflicto todo o tempo sobre a parede em frente.
É rosa, manchada. Fitei-a tanto
Que a sinto parte do meu coração. Mas cede.
Faces e escuridão insistem em separar-nos.

Agora eu sou um lago. Uma mulher se encosta a mim,
Buscando na minha posse o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o brilho e a lua.
Vejo as suas costas e reflicto-as na íntegra.
Ela paga-me em choro e em agitação de mãos.
Eu sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã a sua face alterna com a escuridão.
Em mim se afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrível.
(Tradução Pedro Calouste)



::: ai :::