... finda a bonança, e chegada a tempestade que cercava, o que resta é abandonar as armas
e retomar a luta ...

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

:::passarim, joão:::

meu querer, ido, amor.
um dia pousou-me de lado.
no outro cantou, fez-se ninho...
no terceiro se foi, passarinho.

paula quinaud


broche da artista plástica/designer/ilustradora holandesa
Marloes Duyker
(série - ilustrações com máquina de costura)
Naked Design – Utrecht



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

::: tango :::

Tango Nuevo II - Pedro Alvarez

tango

no escuro, só, num canto,
adentras meu cenário.
em vista, a aventura.
que importa o meu desejo,
me tomas pa’bailar.

começa a contra dança,
de início a contra tempo.
alinha-se o par.
afina-se improviso.
nos olhos o impreciso.
e o tempo a girar.

seguimos com passado.
de noite ao mar só rosas.
de dia amar só prosas.
e a mão presa na coxa.
enlaçam-se as notas,
relevam-se as penas.
há fogo em cada volta.
ninguém quer apagar.

e segue a meio dia,
tão velha melodia,
e quem para escutar?
avanço, tu recuas.
eu cresço e continuas,
a me tremer as pernas.
a me roubar o ar...

distraio e rodopio.
e muda o andamento,
desanda a evolução.
um ocho e de repente,
estou a sufocar.
reflito  e troco o passo,
me levas pelo braço.
só ris.

diriges meu caminho.
tu dizes que conduz.
adestras movimento.
enquadras pensamento.
condenas a impostura.
controlas o equilíbrio.
com, junto, orquestrado.
percurso ensaiado.
transferes todo o peso,
eu fico rente ao chão.

atacas em falsete,
já quer variação.

aperta o compasso,
acirra a marcação:
andante,
imoderado.
por gênio,
atravessado.
não mais entrelaçado.
de duro a sincopado,
em ritmo binário.
requer compensação.
num tom tão agressivo,
me jogas para o alto.
eu caio assim tão fácil...

eis que então diz perto.
e a dama aqui já pensa.
a cena ali tão densa.
que já se fez duelo.
e tácito não mais.
sequencia interrompida.
mais crua que falida,
apruma-se o final.

e de tronco virado,
deslocas para a frente,
diz, louca, para o lado.
eu rodo em sua mão.
ocupas meu  espaço,
teu corpo em novo eixo.
meu  dorso encontra baixo,
eu saio a contra posto.
não somos mais um par.
só um.

acende-se a luz.
ninguém a aplaudir.

paula quinaud

trilhas possíveis:

a inspiração eterna...


ótima sugestão da amiga Cleonice A. de Paula
(e tema do primeiro vídeo poema)



... só porque um tango argentino,
quase sempre,
me cai melhor que um blues ...