... finda a bonança, e chegada a tempestade que cercava, o que resta é abandonar as armas
e retomar a luta ...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

::: outro João :::

... e o que vai ser de mim que tenho João ...

O que vai ser de João, Bruno, Pedro... e de Raphael, Marco, Henrique, Gustavo? E de outros tantos Antônios, Gabriéis, Andrés, Rodrigos, Lucas, Matheus, Thiagos menores... quiçá quando maiores? Há um ano, cinco meses e dois dias atrás, desabafei em meu fotolog, tomada de desesperança por conta de um João, o Hélio. E de temor por conta de outro, o meu... Declarei meu cansaço com um mundo que arrastava crianças, me envergonhei por pertencer à raça humana, ante o que ela era capaz. Chorei sozinha, falei com alguns, escrevi pra quem quisesse ler... no final não fiz nada. Amofinei-me nas questões sociais de sempre... eram bandidos. Com o João da vez, o Roberto, foram os mocinhos. A desculpa maniqueísta cada vez dura menos, a exploração de um tema por venda de jornal cada vez mais. A situação fica. Recuso-me a fazer cara de espanto, não tenho o direito de me surpreender com nada. Tenho prole e a obrigação de estar calejada, por estar alerta. Polícia para quem precisa...
Escrevo hoje porque ontem assisti a um “espetáculo” numa das maiores avenidas da cidade às três horas da tarde (Av. do Contorno – moro em Belo Horizonte / Minas Gerais / Brasil): Vários carros pretos que deviam estar indo fazer algo muito importante, porque um batedor ia alguns quarteirões à frente já preparando o caminho. De dentro de um dos carros um policial seguia gritando com todos os motoristas em volta, xingando os que não conseguiam dar a passagem imediata. Exigia duas pistas livres. A certa altura um dos carros parou (o que tinha o policial que xingava), dois ou três desceram com armas enormes, que jamais conseguiria pronunciá-las o nome, mesmo que as conhecesse. Fizeram o “mise en scène” de sempre, apontando as armas e olhando em volta... durou dez segundos de vida e uma existência de medo. Voltaram pro carro. Seguiu o carro, seguiu o policial xingando. Ficou o ar parado com o eco das sirenes e a perplexidade teimosa que insiste em se instalar onde não devia - a cena e o medo já me deviam ser previsíveis. Não fui mãe alerta. Me vi na fragilidade do meu carro. Olhei pro banco de trás e vi a fragilidade do meu João. Me senti nada, me senti pó. Como a leoa que não consegue proteger a cria. Como todas as mães quando não conseguem proteger seus filhos... Como uma mãe de João... Talvez pior porque a ameaça vinha de quem deveria proteger as mães...
Na minha ignorância, ainda não consegui saber a importância da operação de ontem. Da expressão do rosto do policial que xingava não vou me esquecer. Quanto ao meu espanto, escrevo justo na tentativa de exorcizá-lo, pra me manter mais alerta e menos frágil, digna, sem ninguém por mim, de ser chamada de mãe.

paula quinaud