... finda a bonança, e chegada a tempestade que cercava, o que resta é abandonar as armas
e retomar a luta ...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

::: jubiabá :::

início do mês Jorge Amado



(ilustrações de Carybé)


Jubiabá
romance de 1935

retrata o cotidiano das classes populares na cidade de Salvador sob a ótica de Antônio Balduíno. um negro que morava no Morro do Capa-Negro, na Bahia. Baldo é seu apelido, colocado por Jubiabá, um pai-de-santo muito respeitado. a narrativa acompanha suas diferentes fases - desde quando vivia nas ruas, ainda criança, cometendo pequenos delitos, agregado a um comendador, malandro, boxeador, trabalhador nas plantações de fumo e artista de circo. o aspirante a herói popular, segue vida aproveitando-se das mulheres, criando confusões e malandreando pela Bahia, até se tornar estivador e fazer greve. por fim descobre que ser livre não é viver sem trabalhar. ser livre é lutar por um ideal.


ainda menino, Baldo se convence de que teria um ABC em seu nome. (ABCs - livretos de histórias heróicas, populares entre as classes baixas do povo baiano)
segue carreira rumo ao seu ABC...


com esse livro, Jorge Amado trouxe para seus romances a tese comunista do "etapismo", que defendia uma aliança política da esquerda popular com a burguesia.


e foi fonte de inspiração para diversos artistas:


Jubiabá
Martinho da Vila

O homem tem dois olhares
Um enxerga, e o outro que vê
Um enxerga, e o outro que vê
Tem o olho da maldade
E o olho da piedade
Tem que ter
Olho bem grande
Pra poder sobreviver
Jubiabá, Ô Jubiabá
Faz o feitiço bem feito
Pra minha nega voltar
No morro do Capa Negro
Quero lhe cambonear

Se secar o olho da maldade
O homem vai sofrer
Sem entender, a ruindade do mundo
Que o seu lado bom vai ver
E sem seu olho da piedade
Vai fazer gente sofrer, magoar, ferir
Sem refletir, e bem mais cedo
Vai desencarnar, subir
É a lei de Jubiabá
Ô Jubiabá
Faz o feitiço bem feito
Pra minha nega voltar
No morro do Capa-Negro
Quero lhe cambonear

Quero meus olhos abertos
Quero bem longe enxergar
Vendo o errado e o certo
Posso diferenciar
No morro do Capa-Negro
Quero lhe cambonear
Jubiabá, Ô Jubiabá
Faz o feitiço bem feito
Pra minha nega voltar



Jubiabá
Gilberto Gil

Negro Balduíno, belo negro baldo
Filho malcriado de uma velha tia
Via com seus olhos de menino esperto
Luzes onde luzes não havia

Cresce, vira um forte, evita a morte breve
Leve, gira o pé na capoeira, luta
Bruta como a pedra, sua vida inteira
Cheira a manga-espada e maresia

Tinha a guia que lhe deu Jubiabá
Que lhe deu Jubiabá
A guia

Trava com o destino uma batalha cega
Pega da navalha e retalha a barriga
Fofa, tão inchada e cheia de lombriga
Da monstra miséria da Bahia

Leva uma trombada do amor cigano
Entra pelo cano do esgoto e pula
Chula na quadrilha da festa junina
Todo santo de vida vadia

Tinha a guia que lhe deu Jubiabá
Que lhe deu Jubiabá
A guia

Alva como algodão e tão macia
Como algo bom pra lhe estancar o sangue
Como álcool pra desinfetar-lhe o corte
Como cura para a hemorragia

Moça Lindinalva, morta, vira fardo
Carga para os ombros, suor para o rosto
Luta no labor, novo sabor, labuta
Feito a mão e não mais por magia

Tinha a guia que lhe deu Jubiabá
Que lhe deu Jubiabá
A guia

Negro Balduíno, belo negro baldo
Saldo de uma conta da história crua
Rua, pé descalço, liberdade nua
Um rei para o reino da alegria

Tinha a guia que lhe deu Jubiabá
Que lhe deu Jubiabá
A guia


Jubiabá
Gerônimo

É ele o estivador
Seu suingue é um suor

Toda nega faz amor com ele,
Toda branca tem maior tensão, ô
Arêre tem confusão na pele
Tem Jubiabá seu protetor
Toda nega faz amor com ele,
Toda branca tem maior tensão,

Arêre de confusão na pele
Tem Jubiabá seu protetor
Jubiabá, baba, baba, babalaô

Bauduíno guerreira

É de canto e de samba

É comum no coração

Jubiabá
Luta pela divisão

Jubiabá
Na boca do mangue é rei
Despediu-se um grande amor
Uma bala cega sem destino,
Foi no peito do trabalho,
Este era o sonho do menino
Bauduíno sempre vencedor


[...] não sabia o que esperar de Jubiabá. Respeitava-o mas com um respeito diferente do que tinha [pelos outros adultos] os homens o ouviam com respeito; recebia cumprimentos de todos [...]. Na sua infância sadia e solta, Jubiabá era o mistério.



fonte e mais:
Fundação Casa de Jorge Amado

quarta-feira, 1 de junho de 2011

::: carybé :::

Hector Julio Páride Bernabó  -   1911-1997

argentino de nascimento, baiano por opção...

cinco mil trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços.


ilustrador:
livro Ganga Zumba - João Felício dos Santos

ilustrador de coração de Jorge Amado, que disse sobre ele:
"feito de enganos, confusões, histórias absurdas, aparentes contradições, e, ao mesmo tempo, é a própria simplicidade".


Jorge Amado escreveu esta história para o seu filho João Jorge, em 1948, em Paris, e a inicia com esta trovinha:
O mundo só vai prestar
para nele se viver
no dia em que a gente ver
um gato maltês casar
com uma alegre andorinha
saindo os dois a voar
o noivo e sua noivinha
dom gato e dona andorinha

(Trova e filosofia de Estevão da Escuna poeta popular
estabelecido no Mercado das Sete Portas, na Bahia) (p.12)
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

por quase toda a sua vida, o pintor acreditou que o seu apelido Carybé provinha de um pássaro da fauna brasileira. Somente muitos anos depois, através do amigo Rubem Braga, descobriu que a sua alcunha significava 'mingau ralo', o que lhe rendeu diversas brincadeiras.

baiano puro sangue




o compadre de ogum

auto retrato



domingo, 29 de maio de 2011

::: porque gabriel :::

(na despedida do autor do mês)

porque gabo continua meu autor de cabeceira...


porque cem anos de solidão é um dos livros da minha vida...


porque eu sigo encontrando Macondo pelo mundo...


"... porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oprtunidade sobre a terra."


Porque ouvi certa vez o Ferreira Gullar dizer que O Amor Natural do Drummond foi um livro divisor de águas na sua vida. Disse que quando o leu pela primeira vez, percebeu que a poesia podia tanto. Ser aquilo tudo, levar, enlevar... Quis ser poeta.
E comigo foi bem assim com Cem anos de solidão.
Minha experiência mais definitiva.
Um soco na boca do estômago, que me cortava respiração por instantes, me fazia parar para absorver o genius loci da escrita alheia.
Passei a entender um livro como um lugar onde queria estar... sempre.
E eu nunca conseguia me preparar para o novo soco da frase seguinte...
Relia e relia e tornava a ler, na tentativa tola de absorver tudo.
Tola.
A cada nova página, todo aquele universo já se modificava - em cenários, estéticas e personagens.
E a releitura tornava a ser a primeira.
Acho que foi assim, depois de tantos livros já lidos, que me tornei leitora.

porque eu tive a sorte de ler na 7º edição – Ed. Sabiá.
tradução de Eliana Zagury.
e com o melhor, as ilustrações de Carybé (Hector Julio Páride Bernabó):






















aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.

Gabriel Garcia Marquez