... finda a bonança, e chegada a tempestade que cercava, o que resta é abandonar as armas
e retomar a luta ...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

:::de belas, flores e borboletas:::

Florbela Espanca trancou-se no quarto.
o dia era 8 de dezembro de 1930, seu 36º aniversário.
já passava das duas da manhã.
pediu ao marido, Mário Lage, que não fosse
incomodada até o dia seguinte.
 na madrugada, sem
“haver gestos novos nem palavras novas”
como dias antes escrevera em seu
Diário do Último Ano, morreu.
 suicidou-se ingerindo dois frascos
do barbitúrico Veronal.


mesmo antes do nascimento,
a vida de Florbela Espanca já estava marcada pelo
inesperado, dramático, incomum.
seu pai, João Maria Espanca era casado com Mariana Toscano que não pôde lhe dar filhos.
este, então,  se valeu de uma antiga regra medieval, que diz que quando de um casamento não houver filhos, o marido tem o direito de ter os mesmos com outra mulher de sua escolha. assim, em 1894 nasce Flor Bela Lobo, filha de Antônia da Conceição Lobo.
 (com quem João Maria ainda
teve mais um filho, Apeles).
os dois foram criados na casa de João Maria e passaram a conviver com sua esposa,
que se torna madrinha de ambos,
mas o pai só a reconhece como filha dezoito anos após a sua morte.


em 1903, aos sete anos escreveu o poema "A Vida e a Morte".
em 1907, o seu primeiro conto: "Mamã!"
foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar o curso secundário.
em 1913 casou-se em Évora com Alberto de Jesus Silva Moutinho, seu colega da escola.
em 1918, após um aborto involuntário, apresentou os primeiros sinais sérios de neurose.
em 1919 saiu a sua primeira obra, Livro de Mágoas – sonetos.
em 1921 casou-se com António Guimarães, com quem já vivia, mesmo casada com Alberto.
em 1923 saiu sua segunda coletânea de sonetos, Livro de Sóror Saudade.
em 1925, divorciou-se pela segunda vez.
em 1925 casou-se com o médico Mário Pereira Lage com quem vivia desde 1924.
em 1927 escreve O Dominó Preto, publicado postumamente em 1982.

ainda em 1927 morreu seu irmão Apeles Espanca, num trágico acidente de avião.
para ele escreveu As Máscaras do Destino, publicado postumamente em 1931.

em 1930 começou a escrever o seu Diário do Último Ano, pubicado em 1981.
ainda 1930, morreu na véspera da publicação da sua obra-prima, Charneca em Flor.





Silêncio!...

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti, e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, meu Amor!... Abre! Sou eu!...

Florbela Espanca

...e veio voando nas asas de uma borboleta d’além mar...
que é toda luz, palavra e afeto.
nem precisou gritar! soprou de lá, ouvi daqui.

presente das terras de lá, da poeta Karla Melo:


...
“para que ser asa quando a gente voa,
de que serve ser cântico se entoa
toda canção de amor do universo?

para quê ser altura e ansiedade,
se se pode gritar uma Verdade
ao mundo vão nas sílabas de um verso?”

Florbela Espanca



Num primeiro momento ela surge como uma borboleta delicada, saída de um mundo colorido, musical e perfeito...  Mais um pouco e se revela poeta forte, de palavra pungente e pena atrevida...  Porém, o perfume que nos deixa após a escrita, faz rodar a cabeça e aguçar o olhar. Não se lê Karla Melo impunemente...
E nem se conquista a sua amizade em vão!...


rua da noite..
.
Silêncio... só o relógio fala e responde.
Gosto da noite. Não da noite agonizante da insônia...
Da noite que opto para estar dia. Na minha mente.
Poder escrever... sonhar acordada.
Ninguém chama-me... tira-me de lá.
Sonhar...
Com fadas, anjos, querubins...
Gosto de sonhar que não cresci.
Deste gosto muito.
E assim, nego-me ter pisado onde pisei. Cortei. Cortei-me.
E quando olho os meus pés cortados...
Acredito... em sonho bom...
que cortei-os nas "pedrinhas de brilhante que espalhei...
para o meu amor passar".

Karla Mello
Fevereiro/2012



O meu verbo

Quebrei correntes
Amarras minhas
Pensei ter eu
Garras insanas
Que machucam.
Quebrei correntes.
E senti medo
De machucar
Meu bem querer.
Percebi então
Não eram garras
Era o verbo
Filho
Do pensamento.
Machuca
Afaga
Expõe apenas.
Expõe-me.

Karla Mello
Março/2012



e ganhei um acróstico:

Poetisas e Poesias....

Poetas, poetas, poetas...
Almas seriam que levitam
Umas pelas outras perpassam
Lágrimas e sonhos traspassam
Ao dormirem sonos que a si embalam?

Querubins e anjos seguram
Um em cada ponta do laço
Indefinível laço do encontro
Num banquete de todas as dores
Anunciando perdões e amores
Um em cada ponta do laço
Debruçados sobre os sonho nossos.

Poeta que tanto gosto dos teus profundos versos...
Receba este carinho - verso
De uma outra que chora, ri e ama
Com a profundidade da alma poética da mulher.

Karla Mello
Junho/2012




... roda e é sempre Florbela...

"O meu mundo não é como o dos outros. Quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesmo compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista;
Sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que se não sente bem onde está, que tem saudades... Sei lá de quê!"

Florbela Espanca




...e entre belas, flores e borboletas,
a alma vai leve e a vida se espanta...
espanca! com risos.
deleita! com dores.
segue em sonhos possíveis, amigos prováveis.
distâncias que são detalhes.
caminhos que vão cruzando.
um tempo de não se ganhar.
histórias de não se perder.
paixões e muita palavra.

paula quinaud

2 comentários:

Karla Mello disse...

Minha Nossa Senhora!
E fiquei perplexa com esta carinhosíssima homenagem pra lá de linda da Poeta e amiga que tanto, tanto admiro!
Paulinha Paula Quinaud... não sei quantas vidas podemos nós ter.
Mas sinto que temos uma delas que andam juntinhas... de mãos dadas.
E muito, muito gosto!
E que bom poder "brincar" com isso.
E nos conhecermos tanto através de gostos e versos.
Receba o meu abraço de muito carinho, Poeta amiga de tantos versos. E creio até que, talvez, nos encontremos na noite... por aí... quando a nossa alma descansa...!
Prazer imenso estar, mais uma vez, entre os teus lindos versos!
Beijos de muita luz!
Viva a Poesia!
Salve a Florbela Espanca!

Karla Mello

POETAS... Em Colcha de Retalhos disse...

Belíssima homenagem, um lindo encontro de poetas. sinto-me feliz com a possibilidade do encontro das Poetas Florbela, Paula Quinaud e a "minha" Karla Mello.
Um abraço Paula...Parabéns pelo Blog. Sensibilidade pura.

Jairo Lima