... finda a bonança, e chegada a tempestade que cercava, o que resta é abandonar as armas
e retomar a luta ...

sexta-feira, 22 de junho de 2012

::: ê boi :::

Humberto Espíndola
da série Bovinocultura, 1969
óleo sobre tela



no dia em que acordei  gado,
desgarrado do campo de mim,
me vi remanso.
rês mansa.
com a carne partida em cortes largos.
e o mundo virou pasto!
o raio caiu de ponta,
à cabeça de vento que me era amparo.
e eu baixei o olhar e vi o mundo sem profundidade.
segui o seco e o reto e o conformado.
o oco do universo se fez guia.
o pouco do manifesto se fez água.
e o tudo era só caminhar...
e esperar  na engorda, o abate.
ou redormir.
rês sonhar...

paula quinaud



Humberto Espíndola
Rosa-boi, 1999
acrílica sobre tela
75 X 95cm


por ser de lá
do sertão, lá do cerrado
lá do interior do mato
da caatinga e do roçado
eu quase não saio
eu quase não tenho amigo
eu quase que não consigo
ficar na cidade sem viver contrariado
por ser de lá
na certa, por isso mesmo
não gosto de cama mole
não sei comer sem torresmo
eu quase não falo
eu quase não sei de nada
sou como rês desgarrada
nessa multidão, boiada caminhando à esmo

lamento sertanejo
(Dominguinhos/Gilberto Gil)




da série Cupins

Humberto Espíndola

 criador e difusor do tema bovinocultura.



...na boiada já fui boi
mas um dia me montei
não por um motivo meu
ou de quem comigo houvesse
que qualquer querer tivesse
porém por necessidade...

disparada
(Geraldo Vandré)



Bovinocultura XXI, 1969
óleo sobre tela, 171X151Humberto Espíndola

post concebido a partir do olhar de Janet Zimmermann,
que se lembrou de Humberto Espíndola nos meus versos.

2 comentários:

Janet Zimmermann disse...

Que lindeza!! Seu poema tem tudo a ver com a arte do Humberto Espindola!! Parabéns, Paula Quinaud, ficou d+++!! Grata pelo carinho...

Paula Quinaud disse...

muito obrigada pela visita e pelo carinho e pela inspiração, Janet! um bjo.